Verbos defectivos? O que é isso? Verbos com defeito...

VERBOS DEFECTIVOS

São verbos ‘que têm defeito’, isto é, que não apresentam todas as conjugações. E por que isso ocorre?

Tudo se resume a visões diferentes em relação à língua portuguesa.

No passado, os estudiosos da nossa língua eram pessoas especiais: religiosos e escritores. Seus campos primários de atuação estavam ligados, respectivamente, à moral e à estética. Assim, suas preocupações envolviam aspectos hoje considerados curiosos. Por exemplo, os padres não admitiam palavras cujos sons lembravam palavrões e maldições, e os artistas das palavras evitavam aquelas que eram feias ou desagradáveis aos ouvidos. E foram esses homens que trouxeram o português para o Brasil.

Dessa forma, surgiram os verbos defectivos, como “computar”, que acabou evoluindo para “contar”, bem mais simples e fácil de conjugar.

Veja só: os padres nunca falavam formas como “computo, computas e computa”, só admitindo esse verbo nas formas de plural:

- “computamos, computais e computam”;

Pronto! Estava criada uma regra: “tal verbo só existe nas formas de plural”.

 Os literatos, por sua vez, evitavam as formas sonoramente feias, como “adequo”...

Pronto! Estava criada outra regra: “o verbo “adequar” só tem as formas arrizotônicas, ou seja, as que têm a vogal tônica fora do radical (em “adequar”, o radical é “adequ”).

- “adequamos e adequais”;

A gramática, que acabou se impondo como norma para a boa escrita, criou, então, a ideia dos verbos defectivos, recomendando que certos verbos só se conjugassem em determinadas formas, por exemplo:

- verbo “reaver” no presente do Indicativo – só nas formas arrizotônicas: “nós reavemos e vós reaveis”; e não tem o presente do subjuntivo, que sairia do “eu” do presente do indicativo (que não existe);

- verbo “colorir” no presente do indicativo – não apresenta a primeira pessoa do singular, mas tem as demais, “colores, colore, colorimos, coloris e colorem”; não havendo a forma “eu”, também não existe o presente do subjuntivo.

É claro que se trata de um conceito meio antigo, e, numa terra onde as pessoas têm uma relação pequena com a língua culta (quase nenhuma com a gramática), os falantes não conhecem tais limitações da norma padrão do idioma.

É muito interessante notarmos o que ocorreu com o verbo “computar”.

Com o advento da informática, esse verbo voltou a ser usado, não mais como sinônimo de “contar”, com outro sentido, bem mais específico: “registrar por meio de computador”.

E o que ocorre?  As pessoas, mais até as crianças, o usam normalmente, sem encontrar problemas, o que é normal nos verbos de primeira conjugação: “computo, computa...”

Nem sabem das restrições gramaticais...

Por isso tudo, as pessoas tendem a usar o verbo “adequar” nas formas vetadas pela norma gramatical, isto, é, aquelas que não deveriam ser utilizadas:

Cada vez mais a noção da defectividade verbal vai sendo esquecida...

E o que se deve fazer: é questão de escolha de cada um. Eu, por exemplo, gosto de seguir o “padrão culto da língua”.

Ao contrário da frase “Importante é que você não se adeque jamais”, eu sempre “procuro me adequar” à forma recomendada, isto é, “eu sempre estou adequado a ela” ou, ainda, “eu me adapto ao uso padrão”. Viram? Sempre há uma maneira mais normal de falar o que se deseja.

Vejam que há casos mais curiosos ainda:

- Se nós perdemos as nossas chaves dos carros, e logo conseguimos reaver tais objetos, nós  falamos:

- “Nós reavemos nossas chaves.”

Dá para usar o verbo “reaver”; porém, se fosse somente eu como ficaria:

- “Eu... minha chave.”

Melhor dizer: “Eu recupero minha chave...”

Ou então: “Eu estou reavendo minhas chaves.”

 

Obs. O artigo antes de “importante”, na frase original, é facultativo, já que a oração iniciada pelo “que” pode ser uma subordinada substantiva subjetiva ou predicativa.