Um “se” apassivador é aquele que consegue formar uma voz passiva, isto é, ele altera a estrutura sintática da oração de tal modo que o sujeito, em vez de praticar a ação, a sofre.
Primeiro, vamos aprender o que é voz passiva.
1) “O carro atropelou a moto.”
“O carro” é o sujeito da oração que tem como verbo “atropelar”. Ele pratica a ação de “atropelar”. Este verbo, por sua vez, é transitivo direto, ou seja, seu complemento é o termo que sofre a ação: “a moto”. Essa é a Voz Ativa.
A mesma mensagem poderia ser transmitida por meio de uma estrutura diferente:
2) “A moto foi atropelada pelo carro.”
“A moto”, que, na frase 1, era o objeto direto, é, agora, o sujeito, ou seja, continua sofrendo a ação, mas, agora, é o sujeito. Note que a forma verbal está construída de maneira diferente. Recebe um verbo auxiliar, no caso “ser”, na forma de passado “foi”, a que se soma o particípio do verbo principal, “atropelada”. Finalmente, o sujeito da oração 1 ganha o auxílio da preposição “por” e indica o termo que pratica ação; por isso, chama-se agente da passiva. Essa é a maneira como se forna a voz passiva no seu modelo mais tradicional, a passiva verbal ou analítica.
3) Venderam a moto.
Note que, nesse exemplo, não aparece o agente da ação de “vender”. Diz-se que o sujeito é indeterminado. Não sabemos quem a vendeu. Sabemos, porém, que “a moto” é o objeto direto do verbo transitivo direto. Ela sofre a ação. A estrutura é ativa, pois o sujeito, mesmo indeterminado, foi alguém que praticou a ação.
4) Vendeu-se a moto.
O emprego do “se” muda a estrutura sintática do exemplo. Agora, diz-se que “a moto” é o sujeito, e a voz usada é passiva. Esse é o “se” apassivador. Faz a transformação da frase ativa em passiva. Note que, em relação à anterior, existe a mesma indeterminação do agente. Não sabemos quem a vendeu, mas sabemos o que foi vendido, “a moto”. A mensagem é igual à da 3, embora a estrutura seja diferente. Dizer “vendeu-se a moto” é o mesmo que dizer “a moto foi vendida”. Assim, comprova-se que o “se” é o elemento formador da voz passiva.
Isso, no entanto só ocorre com verbos que pedem objeto direto, isto é, o termo que, na voz ativa, sofre a ação. Veja outro exemplo
5) Deram-se outros motivos aos atrasados.
Mais uma vez, não identificamos o agente. Não sabemos quem lhes deu os “motivos”. Vemos que “outros motivos”, termo no plural, que sofre a ação (de “ser dado”), é o sujeito; por isso, o verbo está no plural. Se o sujeito sofre a ação, a estrutura é de voz passiva. O verbo “dar” é transitivo direto e indireto, tendo sido o seu objeto direto transformado em sujeito paciente, o que sofre a ação. O objeto indireto – “aos atrasados” – continua sendo objeto indireto.
Muitos confundem esse “se” apassivador com um outro a que chamamos “indeterminador”. Na verdade, poderíamos dizer que é o mesmo “se”, que apenas foi usado num “ambiente” diferente, isto é, com um verbo que apenas não pede objeto direto.
6) Depende-se de ajuda maior.
É... parece igual, pois também não identificamos o agente da ação. Mas, como não houve um objeto direto (na ativa) que pudesse ser o sujeito (da passiva), o “se” não consegue formar a voz passiva. O que ele apenas conseguiu fazer foi indeterminar o agente, que seria o sujeito da voz ativa. Ou seja, ele não formou uma voz passiva, apenas indeterminou o sujeito, daí o seu nome: “indeterminador”.
Isso ocorre sempre que não houver objeto direto pedido pelo verbo. Veja com esse verbo intransitivo.
7) Ainda se morre de fome neste país...
Agora, percebe-se novamente que o sujeito é indeterminado, já que não se faz alusão a um sujeito, mas, sim, a uma ação contida no próprio verbo. É consequência do “se” indeterminador. Veja que os dois adjuntos adverbiais continuam com suas noções circunstanciais, de causa (“de fome”) e lugar (“neste país”).
Mais um exemplo:
8) Nem sempre se é feliz.
Temos, agora, a ocorrência de um “se” junto a um verbo de ligação. Novamente, aparece um sujeito indeterminado, já que não se faz referência específica a alguém. Curiosamente, o predicativo do sujeito – “feliz” – se refere a esse sujeito indeterminado. A expressão “nem sempre” é um adjunto adverbial de tempo com marca negativa.
Agora, vamos aprender a classificar os dois “se”:
Caso 1 – “se” apassivador => empregado junto a verbos que pedem objeto direto (TD e TDI); indetermina o agente e transforma o OD em sujeito paciente; forma voz passiva. Cuidado com a concordância, pois o sujeito é, agora, o termo, normalmente, posposto.
9) Consideram-se as duas opções.
Voz passiva formada pelo “se” apassivador, já que o verbo é transitivo direto. Equivale a “As duas opções são consideradas”. O verbo, no plural, concorda com o sujeito posposto.
Caso 2 – “se” indeterminador => empregado junto a verbos que não pedem objeto direto (TI, Intransitivo e verbos de ligação); indetermina o agente, que é o sujeito; as outras funções se mantêm, e continua a voz ativa.
10) Pensou-se em todas as opções.
Voz ativa, com sujeito indeterminado pelo “se” (indeterminador). O termo “em todas as opções” é o objeto indireto, e o verbo permanece no singular.