Natal da língua portuguesa! Dicas para iniciantes! 15/12/2020
1) Dica 1: A ideia de modalidade, sobretudo quando se trata de acento grave, não ficou muito clara para mim. É possível mais exemplos?
Tal noção de modalidade é algo bem claro; no entanto, o uso do acento grave nessa situação não é algo pacificado entre gramáticos e professores. A recomendação do uso do acento grave se deve à necessidade de estabelecer clareza nos dois possíveis entendimentos.
Veja só:
a) “Esse é um belo ponto turístico. Bem alto, com muitas montanhas! Boas cabanas de artesanato. Aqui, realmente, valoriza-se a vista.” – O que se valoriza é a paisagem, não o modo de vender o artesanato.
b) “Aqui, nas lojas deste ponto turístico, só têm valor certas compras, e à vista.” – O que vale mesmo é fazer as compras, pagando em dinheiro, sem cartão ou parcelamento, isto é, “cash”. Fica bem nítido que se está falando da modalidade.
Certos teóricos e alguns professores defendem que o contexto permite a identificação entre “a vista” (= “a paisagem”) e “à vista” (=> modalidade), mas, nesse caso, isso não ocorreria, daí a defesa de se usar o acento para fazer a diferença, além, é claro, da diversa sonoridade do “a” artigo, para o “à” da locução adverbial. Enquanto o primeiro soa fraco – no português lusitano, fechado -, o segundo tem o som bem aberto, um pouco mais forte e alongado. Mas isso só aconteceria na língua falada.
Observe que, nos casos abaixo, acentuar o “a” das locuções que indicam modalidade seria a forma de fixar a diferença de sentido para o leitor.
c) “A verdade é que gosto de receber a francesa.” – O anfitrião recebe uma mulher de origem francesa.
d) “Gosto mesmo de receber à francesa.” – Agora, o convidado é servido à moda francesa, ideia de modalidade.
e) “Em termos de Educação, comparado a certos países, está na hora de os brasileiros aprenderem a distância.” – Os brasileiros precisam reconhecer a diferença entre sua educação e ade outros países.
f) “Em termos de Educação, comparado a certos países, está na hora de os brasileiros aprenderem à distância.” – Os brasileiros precisam desenvolver mais o ensino on-line, ideia de modalidade.
2) Dica 2: Em relação à flexão do infinitivo, gostaria de mais exemplos sobre a flexão proibida.
São dois os casos de flexão proibida, um bem comum e o outro mais raro.
1º caso) nas locuções verbais (verbo auxiliar + infinitivo):
1) “Elas podem reclamar à vontade.”
2) “Os alunos devem esperar o sinal para sair de sala.
3) “Nós estamos a retirar o nosso apoio.”
4) “Todos os brasileiros querem influir na criação de leis mais severas nos casos de estupro e, assim, evitar a falta de punição aos culpados.“
Veja que eu destaquei os sujeitos no plural para mostrar como os infinitivos não se flexionam. No item 4, o segundo infinitivo faz parte de uma locução verbal cujo verbo, para evitar a repetição, está implícito, assim como o sujeito (“eles”): “(querem) evitar”.
2º caso) com sujeito representado por pronome oblíquo:
1) “O professor deixou-os receber as provas depois da hora.”
2) “Nós os vimos esperar os resultados em paz.”
3) “Eles lhes mandaram encontrar os rivais.”
4) “Todos os amigos deixaram-nas sair sem palavras amáveis.”
Não são locuções verbais. Há, em todos os casos, duas orações: na primeira delas, um dos verbos causativos (“mandar”, “deixar” e “fazer”) e sensitivos (“ver”, “ouvir” e “sentir”); na segunda, cujo sujeito é o pronome oblíquo em destaque, aparecem os infinitivos, que estão sublinhados e nunca podem estar flexionados.
3) Dica 3: Há alguma hipótese de utilizar “em cerca de”?
Sem problemas, desde que o verbo exija a regência com a preposição “em” e, em seguida, apareça uma locução denotativa de valor avaliativo “cerca de” (equivalente a “perto de”, “mais ou menos” etc.):
Exemplos:
1) “Tal acontecimento se verificou em cerca de vinte relatórios.”
2) “Em cerca de doze fotografias, apareceu o branco da neve.”
3) Estaremos aí em cerca de dez minutos.”
4) A notícia apareceu em cerca de vinte sites diferentes.