Vida de revisor é difícil 19 - Manter ou manterem?

Professor, são certas as duas formas? “Alguns carnavalescos foram acusados de infiéis por não manter ou manterem a coerência ao verde e rosa da escola.” Qual é a melhor?

A flexão do infinitivo é bem curiosa e cheia de detalhes. Nesse caso, após preposição sem o sujeito claro, o infinitivo pode ou não se flexionar. Alguns consideram mais elegante a não flexão: “Alguns carnavalescos foram acusados de infiéis por não manter a coerência ao verde e rosa da escola.”

Se, no entanto, usássemos a palavra “eles” para retomar “alguns carnavalescos”, haveria obrigatoriamente a flexão: “Alguns carnavalescos foram acusados de infiéis por eles não manterem a coerência ao verde e rosa da escola.”

Também se recomendaria a flexão, se a oração com o verbo no infinitivo viesse antecipada: “Por não manterem a coerência ao verde e rosa da escola, alguns carnavalescos foram acusados de infiéis.”


Vida de revisor é difícil 18 - Com ou sem acento grave, indicador da crase?

Professor, não está faltando o acento grave nesse texto de um conhecido site ligado à Saúde? “O governo federal orientou as secretarias estaduais e municipais de saúde que tiveram casos suspeitos de dengue tipo 4 reforçar as ações de controle ao mosquito aedes aegypti.”

Poderia realmente ser assim: “O governo federal orientou às secretarias estaduais e municipais de saúde que tiveram casos suspeitos de dengue tipo 4 reforçar as ações de controle ao mosquito aedes aegypti.

Mas também poderia ser assim: “O governo federal orientou as secretarias estaduais e municipais de saúde que tiveram casos suspeitos de dengue tipo 4 a reforçar as ações de controle ao mosquito aedes aegypti.

Esse verbo, a exemplo do “ensinar”, admite duas regências: “orientar alguma coisa a alguém” ou “orientar alguém a alguma coisa”. Um dos dois objetos tem de apresentar a preposição “a”; então, poderia ser:

- ...orientar as secretarias (OD)... a reforçar (OI)...

- ...orientar às secretarias (OI)... reforçar OD)...

Vale saber que o infinitivo admitiria a forma plural: “reforçarem”.


Vida de revisor é difícil 17 - "Pêra" leva cento?

Professor, “pêra” já levou acento? “A menina levantou da mesa e pôs-se a comer uma pêra, que parecia bem saborosa.”

A palavra “pera” (fruta) no singular levava esse acento para diferenciar de uma antiga preposição “pera”, que desapareceu por se parecer, em todos os sentidos, com “para”. Outras palavras que também levavam esse acento diferencial são: “(eu) pelo”, “(tu) pelas” e “(ele) pela” (formas do verbo pelar), “(o) pelo” e “(os) pelos” (substantivo), “(o) polo” e “(os) polos” (com timbre aberto, pontos extremos da terra ou jogo e, com timbre fechado, filhotes de gaviões). Os acentos diferenciais que foram mantidos são “pôr” (verbo) para diferenciar de “por” (preposição) e “(ele) pôde” (passado) para distinguir de “(ele) pode” (presente). 


Vida de revisor é difícil 16 - "Na medida em que ou à medida que"?

Professor, está certo o uso da locução conjuntiva abaixo? “Eleições 2020: Procurador-geral da República diz que gravidade de atos ilícitos cresce na medida em que eles se repetem.” Não seria “à medida que”?

Sem dúvida! Não há ideia de causa, mas, sim, de proporção. Veja a diferença:

“A preocupação com a legalidade aumenta à medida que as novas eleições se aproximam.” – ideia de proporção; uma aumenta na proporção que os dias de eleição se aproximam; ela poderia ser substituída por “à proporção que”.

“A preocupação é legítima na medida em que todos querem uma eleição honesta.”  - agora, a ideia é de causa; poderíamos substituir a locução por “porque”, “pois”, “visto que”, “uma vez que”. 


Vida de revisor é difícil 15 - Futuro do presente ou do pretérito?

Professor, devo mudar, na frase abaixo, o tempo do verbo para o futuro do presente? “Há oferta suficiente para atender à demanda. E, até 2025, toda população mundial poderia ser atendida.” Afinal, se há oferta, ela poderá ser atendida!

Não mexa no tempo do verbo! Você é só um revisor! Provavelmente, o autor do texto utilizou esse tempo por um forte motivo. O futuro do pretérito foi usado exatamente por não se saber se isso será feito. A sua vontade de trocar pelo futuro do presente é explicada por um otimismo intenso e pela crença no que é correto, mas não é o que o “dono” do texto pensa.