Mestre, no VOLP/ABL (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras), aparece "toma lá dá cá". Mas, de vez em quando, leio em veículos de comunicação "toma-lá-dá-cá" e "toma lá, dá cá" (com vírgula no lugar dos hifens). Também estariam corretas?
As alterações trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2009, com relação ao emprego do hífen, deixam inúmeras dúvidas e, muitas vezes, levam a usos não muito coerentes.
Essa expressão, por exemplo, estaria enquadrada no caso de palavras compostas que criam novos sentidos com elemento de ligação, as quais deixaram se ter os hifens (exceto se forem nomes de vegetais e animais).
São exemplos: “pé de moleque” (= doce), “dia a dia” (= rotina, cotidiano), “disse me disse” (= fofoca) e “não me toques” (melindres), além de “toma lá dá cá”.
O problema é que, nas frases:
a) “Lá em casa, minha esposa faz um delicioso pé de moleque daqueles do Nordeste.”
b) “Nesta pandemia, o dia a dia da maioria das pessoas tende a ser monótono.”
- a nova regra fica bem especificada. Veem-se, claramente, as palavras de ligação, ou seja, as preposições “de” e “a”. Portanto, apesar de algumas poucas dúvidas, há coerência em se abandonar os hifens.
Já, nas três seguintes, essa coerência, quanto às palavras de ligação, se perde:
c) “O professor, meio zangado, pediu que parassem com o disse me disse.”
d) “Aquela criança mimada é cheia de não me toques.”
e) “Aquele partido político do Centrão adora um toma lá dá cá.”
- há, na verdade, palavras de ligação? Pelo menos na acepção gramatical, não. Isso gera dúvidas, e alguns, por isso, acabam não acompanhando a nova regra.
Para o usuário da língua portuguesa, no entanto, a resposta à pergunta é bem simples: siga sempre o que aparece no VOLP/ABL: “pé de moleque”, “dia a dia”, “disse me disse”, “não me toques” e “toma lá dá cá”.