Vida de revisor é difícil 25

Mestre, está certa a construção abaixo?

“O ex-presidiário líder do partido havia dado o aval para a adesão ao “fora presidente atual” apenas dois dias antes da demissão do ministro.”

Na verdade, não se trata de um erro, mas de uma construção com um sério problema de sonoridade. Na combinação do verbo auxiliar com o principal (“havia dado”), percebe-se uma relação inadequada devido ao som do conjunto lido como se fosse uma só palavra. A confusão com o adjetivo “aviadado”, o que tem jeito de ou se comporta como “viado”, maneira chula de fazer referência a homens com diferente opção sexual, é o motivo de o texto ser condenável.

Melhor escrever: “O ex-presidiário líder do partido tinha dado o aval para a adesão ao “fora presidente atual” apenas dois dias antes da demissão do ministro.”

Ou então: “O ex-presidiário líder do partido dera o aval para a adesão ao “fora presidente atual” apenas dois dias antes da demissão do ministro.”  


Vida de revisor é difícil 24

Professor, li isso, “Previsão é de que atividades presenciais sejam retomadas gradualmente a partir de julho” num site de notícias. Está certo?Pergunta de um ex-aluno de turma antiga do “Curso de Formação em Revisores”.

Na verdade, não há motivo de existir o “de” antes do “que”. Muitos estudiosos chamam esse uso de “dequeísmo”. Pode ser, realmente, uma utilização de um “de” indiscriminado. No entanto, penso que é uma contaminação a partir de outra construção um pouco mais complexa: “Previsão é a de que atividades presenciais sejam retomadas gradualmente a partir de julho.”

É a mania de certos articulistas quererem escrever de uma forma talvez mais sofisticada, porém nem sempre precisa e correta. Guardem o “de” para quando ele for necessário. A construção mais simples seria:

“Previsão é que atividades presenciais sejam retomadas gradualmente a partir de julho.”


Vida de revisor é difícil 23

Pergunta de um aluno da Turma 23 do “Curso de formação em Revisores”, a qual terminou na semana passada: “Na TV, a frase ‘Aqueles que pedem AI-5 antes devem mostrar onde está na Constituição tal dispositivo’ havia uma vírgula depois de ‘AI-5’. No jornal escrito, estava sem a vírgula. Qual é a forma correta?”

Não pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo! É uma regra básica da pontuação clássica. Como o sujeito da frase é “Aqueles que pedem AI-5”, e o verbo é a locução “devem mostrar”, o problema é a palavra “antes”, um advérbio antecipado, provavelmente referente à locução verbal anteriormente citada, e não ao verbo “pedir” (ó ambiguidades linguísticas!) , a qual interrompe a linha normal da oração. Nesse caso, em tal antecipação, é moderno não utilizar a vírgula, como ocorreu no trecho “na Constituição”. Talvez o melhor fosse o texto ter sido escrito assim: “Aqueles que pedem AI-5 devem mostrar antes onde está na Constituição tal dispositivo.”

Sem vírgulas, sem mudanças de ordem!    


Vida de revisor é difícil 22

Esta me foi enviada por um revisor de uma revista. Está certo isto: “...o médico postou três artigos nas últimas semanas que deixam claro a sua visão sobre diversos pontos...”?

Não. Não está correta! Esse tipo de erro é muito comum quando se altera a ordem normal dos termos. É só pensar um pouco. O que foi que ele deixou claro? A resposta é óbvia: “a sua visão”. Então, a concordância deve ser feita com o que vem depois: “...que deixam clara a sua visão...”

Se o repórter tivesse usado a ordem direta, dificilmente teria errado. Veja só:   “...que deixam a sua visão clara...”

Os jornalistas, em geral, preferem trazer o adjetivo, que é um predicativo do objeto, para antes desse objeto, com o objetivo de evitar leituras erradas ou ambíguas. O problema é que se esquecem de rever a concordância.


Vida de revisor é difícil 21

“Quem vai para a rua está atrás de emprego, está atrás de um ganha pão.” Esse “ganha pão” está certo? Ou tem hífen?

Veja a diferença nos exemplos seguintes.

1)      Uso normal, denotativo: “O trabalhador ganha pão com seu suor.”

2)      Uso figurado, conotativo: “Os trabalhadores vão às ruas atrás do seu ganha-pão.”

Ou seja, quando o sentido é figurado, usa-se o hífen para marcar a novidade semântica.

Cuidado! O último Acordo Ortográfico excluiu a necessidade desse hífen nas palavras novas em que há palavra de ligação: “dia a dia” (= cotidiano, rotina) e “pé de moleque” (= doce, tipo de bolo).