Fantasmas da Análise sintática 22) Predicativo do complemento nominal? Existe isso?

Professor, vi, num livro, que existem predicativos que não sejam do sujeito ou do objeto? Pode ser?

Existe sim! Aliás, em sintaxe, há muitas construções que nos surpreendem; por isso, o bom professor nunca diz que algo não existe. Use sempre a palavra normalmente para amenizar “verdades definitivas” que não são tão definitivas assim.

Aprenda!

Predicativo do complemento nominal existe, mas, primeiro, vamos ver o que é um predicativo.

O que é um predicativo? É um atributo, ou seja, uma qualidade, condição ou estado que se atribui a alguma coisa ou a alguém. Normalmente, é função exercida por adjetivo, mas pode ser um substantivo com valor de adjetivo ou até uma locução ou expressão adjetiva.

A estrutura mais comum para ocorrer um predicativo é a que se constrói com verbos de ligação, isto é, verbos que perdem sua capacidade de indicar ação:

a)      A jovem estava triste.

b)      A aula era uma maravilha!

c)      Os galos pareciam de briga...

Veja que os três verbos – “estar”, “ser” e “parecer” – deixaram de revelar ações e passaram a indicar apenas estados: “triste” (adjetivo), “uma maravilha” (substantivo com valor de adjetivo / = “maravilhosa”) e “de briga” (locução adjetiva / = “briguentos”). São atributos referentes aos sujeitos “A jovem”, “A aula” e “Os galos”. São, portanto, predicativos do sujeito em orações com predicado nominal. Nesse caso, é claro que o predicativo só pode se referir ao sujeito.

Existem, também, os predicados verbonominais, quando o verbo não deixa de indicar ação, mas também atribui um estado, nem sempre, porém, ao sujeito. Observe os exemplos:

d)    A cidade despertou assustada.

e)    Os professores consideram ótima a aula.

f)     Os espectadores só gostam de vocês engajados.  

Em “d”, o predicativo “assustada” ainda é do sujeito “A cidade”; em “e”, “ótima” é predicativo do objeto direto “a aula”; e, finalmente, “engajados” é predicativo do objeto indireto “de vocês”.

É nesse caso que pode ocorrer um predicativo de complemento nominal.

g)    O eleitor só tem respeito a alguém honesto.

h)    Tais ensinamentos são úteis a elas interessadas.

Veja que, nos dois exemplos, há uma pausa entre os pronomes e os adjetivos. São, portanto, noções atribuídas – “honesto” e “interessadas” - aos núcleos dos complementos nominais “a alguém” (complemento do substantivo abstrato “respeito”) e “a elas” (complemento do adjetivo “úteis”). Portanto, predicativos dos complementos nominais.


Fantasmas da Análise sintática 21) Predicativo do sujeito precisa de verbo de ligação?

Professor, tive uma dúvida ao elaborar uma questão de prova aqui para meus alunos sobre predicativo do sujeito.

Tenho um livro que sugere classificar a palavra “tristíssimas” na oração abaixo:

"As pensões alegres dormiam tristíssimas.”

No gabarito, diz que é predicativo do sujeito, mas explica que o verbo “dormir”, ali, é um verbo de ligação? Afirma, ainda, que a estrutura, para ter predicativo do sujeito, deve sempre obedecer a “Sujeito + Verbo de Ligação + Predicativo do Sujeito?

Não!!!

Cuidado com esses livros que “ensinam” análise sintática sem conhecê-la devidamente!

Em "As pensões alegres dormiam tristíssimas.”, a palavra tristíssimas” é um predicativo do sujeito sim, mas numa estrutura diferente:

"sujeito + verbo intransitivo + predicativo do sujeito". 

É um caso de predicado verbonominal! (Viram como escrevi? Guardem bem e reaprendam a escrevê-la: agora, na verdade desde 2009, é assim que se escreve, pois é como está no VOLP/ABL).

Na estrutura apresentada pelo livro: "sujeito + verbo de ligação + predicativo do sujeito", o que temos é um predicado nominal, algo normal e muito mais comum.

Em “As pensões estavam tristíssimas”, não existe ação, apenas um estado; por isso, o verbo é de ligação, e o predicado deve ser classificado como nominal.

     O “fantasma”, no caso, é achar que predicativo do sujeito só existe com verbo de ligação!

     Em “As pensões despertavam tristíssimas”, existe a ação de “despertar”. Trata-se, então de um predicado com predicativo, mas o verbo não é de ligação, e, sim, intransitivo. É por esse motivo que o predicado se classifica como verbonominal.


Vida de revisor é difícil 38

Professor, está certo isto? “Presidente, não nomeie para a Educação qualquer um. Escolha alguém que lhe apoie.”

O emprego dos pronomes pessoais é um dos maiores problemas da nossa língua. No caso, o pronome deve ser trazido para antes do verbo devido ao “que” anterior, isto é, caso de próclise. Mas a dúvida chega quando é hora de decidir entre o “o” e o “lhe”.

A escolha depende da regência verbal: se o verbo não pedir preposição, usa-se “o” (ou suas flexões, “a”, “os” e “as”); se, diferentemente, pedir preposição, normalmente “a” ou “para”, deve se preferir o “lhe” (e sua flexão “lhes”).

Veja que falei em “pedir preposição” e não “haver preposição”. Aí é que muita gente erra!

Perceba que há uma tendência em substituir o pronome pessoal oblíquo átono (seja “o” ou “lhe”), pelo tônico “ele”, o que fatalmente leva ao uso da preposição, uma vez que todos os pronomes pessoais oblíquos tônicos, tenham eles a função de objeto direto ou indireto, adjunto adnominal ou complemento nominal, sempre terão uma preposição.

Assim, imagina-se que seria: “Escolha alguém que apoie ao senhor”, mas poderia ser “Escolha alguém que apoie o senhor.” Isto é: “alguém que apoie a ele”.

Pronto, ocorreu a ilusão do acerto, e acaba de se achar que deve ser “lhe”. Por que ilusão? Veja lá!

O melhor é proceder da seguinte forma: imagina-se um complemento fixo, por exemplo, “o aluno”, “o livro”, para o verbo ou nome em questão. Se for possível usar “o aluno” ou “o livro”, é hora de utilizar “o, a, os e as” (dependendo, é claro, do gênero e número). Veja os exemplos:

a)    Nós vimos o artista naquela peça. => Nós vimos “o aluno”; logo, Nós o vimos naquela peça.

b)    A sociedade, ontem, aplaudiu o governo estadual. => A sociedade aplaudiu “o aluno”; logo, A sociedade, ontem, aplaudiu-o.

c)     Não conhecemos o verdadeiro motivo da acusação. => Não conhecemos “o livro”; logo, Não o conhecemos

d)    O rapaz encontrou suas irmãs na praia. => O rapaz encontrou “o aluno”; logo, O rapaz encontrou-as na praia.

Veja que se evitou substituir os termos complementares por “a ele e flexões”, pois isso nos levaria a usos inadequados do pronome átono. O fato é que nenhum dos exemplos, quando utilizamos “o aluno” ou “o livro”, precisou de preposição.

Não sendo possíveis essas substituições, só então experimente usar as variantes com preposição, “ao aluno”, “ao livro”, “do aluno”, “do livro”, “no aluno”, “no livro”, “para o aluno”, “para o livro” etc. Então, já sabemos que é hora de empregar “lhe e lhes”.

e)    Entreguei a nota ao interessado. => Entreguei a nota “o aluno”; é... não deu: seria Entreguei a nota “ao aluno”; então, deve ser: Entreguei-lhe a nota.

f)      Avisei a todos os funcionários seu dia da folga. => Avisei “o aluno” seu dia da folga; é... não deu: seria: Avisei-lhes seu dia da folga.

g)    Proibiu à faculdade realizar novo vestibular. => Proibiu “o aluno” realizar novo vestibular; é... não deu: seria: Proibiu-lhe realizar novo vestibular.

h)    O jovem obedeceu ao professor que escreveu os livros. => O jovem obedeceu “o aluno”; é... não deu: seria: O jovem obedeceu-lhe.

É óbvio que, nas três últimas, teríamos de seguir a regência padrão: “avisar alguma coisa a alguém”, “obedecer a alguma coisa” e “proibir alguma coisa a alguém”.  

Tenha mais cuidado ainda com certos verbos que não admitem o “lhe e flexão” e, assim, exigem a forma tônica “a ele e flexões”.

i)      Nós assistimos ao jogo em meio à torcida adversária. => Embora haja preposição, não é possível o uso do “lhe”; deve ser Nós assistimos a ele em meio à torcida adversária.

j)      A mãe da moça se referiu ao rapaz com entusiasmo. => Embora haja preposição, não é possível o uso do “lhe”; deve ser A mãe da moça se referiu a ele com entusiasmo.

A frase da pergunta deveria ser assim: “Presidente, não nomeie para a Educação qualquer um. Escolha alguém que o apoie.”


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Vida de revisor é difícil 37

Vida de revisor é difícil 37

“Quem espera sempre alcança” ou “Quem espera, sempre alcança?” Professor, qual é forma correta, com vírgula ou sem vírgula? O mesmo entendimento se aplica a “Quem procura acha”, “Quem avisa amigo é” e “Quem lê sabe”? 

A regra de uso da vírgula é clara: não se separa sujeito de verbo! Mas, a verdade é que muitos autores recomendam esse uso da vírgula separando as duas orações, já que há uma evidente pausa entre a oração-sujeito e a oração-predicado.

Os defensores da ausência da vírgula seguem a norma gramatical que não vê necessidade de usá-la, uma vez que não há necessidade, e, além disso, não aceitam a “regrinha” normalmente “mal” ensinada que diz que a uma pausa corresponde uma vírgula. A pause existente é natural e pode até ser alongada em nome da expressividade.

Por outro lado, alguns autores, inclusive em livros didáticos de língua portuguesa e manuais de redação, baseados no fato de que, na fala, se acentua bastante a pausa após o primeiro verbo e que isso é normalmente “conhecido” pela maioria dos estudantes defendem a existência da vírgula para facilitar a leitura. 

O que vale mesmo, porém, é que tal vírgula marcaria uma pausa que não é obrigatória, sendo, assim, mais um fator de expressividade do que uma característica da sintaxe tradicional.