Vida de revisor é difícil 47, 48 e 49

Vida de revisor é difícil 47

 Mestre, no período abaixo, duas perguntas: É assim mesmo que deve vir o pronome? Como eu poderia descobrir se o correto é “ver-se-ia” ou “ver-se-iam”?  

 “Se fossem excluídos os votos em branco, nulos e indecisos e a contagem mantivesse somente os votos válidos, ver-se-ia que as disputas estavam muito apertadas.” 

 Antes de tudo, não se espante com a mesóclise, uma colocação pronominal de uso raro na nossa língua, em meio à forma verbal. Era bastante usada pelo ex-presidente Michel Temer, que gostava de “florear” o seu português.

É um uso corretíssimo! Foi utilizada porque o verbo aparece no futuro do pretérito, o que impede a ênclise (pronome depois do verbo), e está no início da oração principal, o que não avaliza a próclise (colocação antes do verbo).

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Vida de revisor é difícil 48

“Se fossem excluídos os votos em branco, nulos e indecisos e a contagem mantivesse somente os votos 

válidos, ver-se-ia que as disputas estavam muito apertadas.” 

Veja que o verbo “ver” é transitivo direto (“ver alguma coisa”). Seu objeto seria a oração seguinte (“que as disputas estavam muito apertadas”). No entanto, existe um “se”, e, quando temos um “se” aplicado a um verbo transitivo direto, ele é um pronome apassivador, e o que era OD passa a ser sujeito. Assim, o sujeito da forma verbal “ver-se-ia” é a oração “que as disputas estavam muito apertadas”.

Outra maneira de se chegar a essa resposta era fazer a simples pergunta ao verbo: “O que é que se veria?” E a resposta seria clara: “que as disputas estavam muito apertadas”.

E, sendo um sujeito oracional, o verbo tem de ficar na terceira pessoa do singular: “ver-se-ia”.

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Vida de revisor é difícil 49

Professor, depois de dois pontos, a letra sempre será maiúscula ou minúscula?

Depende. Sendo algo que apenas faça uma expansão ou dê uma explicação, ou, ainda mostre um exemplo do trecho precedente, usam-se minúsculas.

a)       “Na verdade, é tudo uma questão de tempo, isto é: as pessoas acabam por se acostumar.”

b)      “Eram dois lindos carros: uma Ferrari e um Porsche.”

c)       “Toda a evolução do ser humano se resume a uma palavra: liberdade!”

Entretanto, se for uma citação, uma pergunta, uma resposta, enfim um período completo que não se enquadre nos casos anteriores, então é hora de aplicar maiúsculas.”

d)      “A grande questão humana sempre foi: ‘Para onde vamos?’”

e)      “Drummond já dizia: ‘A verdade tem duas faces.’”

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Vida de revisor é difícil 44, 45 e 46

1)     Vida de revisor é difícil 44

 Mestre, na frase, “A bela modelo citou um termo fashion, usado para definir peças que os mais ligados no assunto têm que ter em seu armário”, o “têm” é plural por qual motivo?

   Não se esqueça de que os verbos, normalmente, concordam com o seu sujeito. E qual é o sujeito do verbo “ter”? A resposta é “os mais ligados no assunto”. No caso, como se trata de uma locução verbal, quem vai para o plural é o verbo auxiliar “ter”, enquanto o verbo principal (que também é “ter”) permanece no infinitivo não flexionado: “Os mais ligados têm que ter...”

2)     Vida de revisor é difícil 45

Em suma, professor, quando há sentido figurado, na formação de palavras compostas, utiliza-se ou não hífen?

O sentido figurado que aparece na explicação da grafia dos compostos é, na verdade, uma justificativa para o fato de se ter uma palavra nova na língua, daí o hífen.

Por exemplo: usando duas palavras simples: “saia” (= peça do vestuário) + “justa” (adjetivo; = apertada).

- “A jovem usava uma saia justa de cor vermelha.” – “saia justa” (sem hífen) – não se trata de palavra nova, mas, sim, é a peça do vestuário que está apertada;

- “A jovem atriz, ao pisar o tapete vermelho, foi colocada numa saia-justa pela entrevistadora. – “saia-justa” (com hífen) – é uma nova palavra, significa “situação incômoda”.

Explica-se a nova palavra pela noção metafórica, daí se usar a noção de sentido figurado. É uma norma gramatical razoavelmente conhecida e que se aplica a muitas palavras da nossa língua.

O maior problema é que muitos dicionários, contrariando a norma gramatical, não registram a palavra dessa forma.

3)     Vida de revisor é difícil 46

 

 Caro professor, já é muito comum o uso do travessão duplo no lugar dos parênteses ou mesmo vírgulas. Em relação à norma culta, tal substituição é aceita?

É aceita sim. Na verdade, não são precisamente iguais. O que os aproxima é que os dois servem para separar algo que se quer realmente afastar do restante do texto.

No entanto, aos parênteses e às vírgulas caberia separar algo de valor menor, secundário:

a)       “As folhas ficam avermelhadas (no outono, isso é mais comum) e começam  a morrer e cair.”

 Já em relação aos travessões, procura-se considerar um trecho ou palavra que se quer destacar, valorizar:

b)      “Nas democracias representativas ocidentais, há mais liberdade – valiosa e santa instituição! – do que predominância de um poder sobre outro.”

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Natal da língua portuguesa! Dicas para iniciantes! 15/12/2020

Natal da língua portuguesa! Dicas para iniciantes! 15/12/2020

 1)      Dica 1: A ideia de modalidade, sobretudo quando se trata de acento grave, não ficou muito clara para mim. É possível mais exemplos?

 Tal noção de modalidade é algo bem claro; no entanto, o uso do acento grave nessa situação não é algo pacificado entre gramáticos e professores. A recomendação do uso do acento grave se deve à necessidade de estabelecer clareza nos dois possíveis entendimentos.

 Veja só:

 a)      “Esse é um belo ponto turístico. Bem alto, com muitas montanhas! Boas cabanas de artesanato. Aqui, realmente, valoriza-se a vista.” – O que se valoriza é a paisagem, não o modo de vender o artesanato.

b)      “Aqui, nas lojas deste ponto turístico, só têm valor certas compras, e à vista.” – O que vale mesmo é fazer as compras, pagando em dinheiro, sem cartão ou parcelamento, isto é, “cash”. Fica bem nítido que se está falando da modalidade.

 Certos teóricos e alguns professores defendem que o contexto permite a identificação entre “a vista” (= “a paisagem”) e “à vista” (=> modalidade), mas, nesse caso, isso não ocorreria, daí a defesa de se usar o acento para fazer a diferença, além, é claro, da diversa sonoridade do “a” artigo, para o “à” da locução adverbial. Enquanto o primeiro soa fraco – no português lusitano, fechado -, o segundo tem o som bem aberto, um pouco mais forte e alongado. Mas isso só aconteceria na língua falada.

 Observe que, nos casos abaixo, acentuar o “a” das locuções que indicam modalidade seria a forma de fixar a diferença de sentido para o leitor.

 c)      “A verdade é que gosto de receber a francesa.” – O anfitrião recebe uma mulher de origem francesa.

d)      “Gosto mesmo de receber à francesa.” – Agora, o convidado é servido à moda francesa, ideia de modalidade.

e)      “Em termos de Educação, comparado a certos países, está na hora de os brasileiros aprenderem a distância.” – Os brasileiros precisam reconhecer a diferença entre sua educação e ade outros países.

f)        “Em termos de Educação, comparado a certos países, está na hora de os brasileiros aprenderem à distância.” – Os brasileiros precisam desenvolver mais o ensino on-line, ideia de modalidade.

  

2)      Dica 2: Em relação à flexão do infinitivo, gostaria de mais exemplos sobre a flexão proibida.

 São dois os casos de flexão proibida, um bem comum e o outro mais raro.

 1º caso) nas locuções verbais (verbo auxiliar + infinitivo):

 1)      “Elas podem reclamar à vontade.”

2)      “Os alunos devem esperar o sinal para sair de sala.

3)      “Nós estamos a retirar o nosso apoio.”

4)      “Todos os brasileiros querem influir na criação de leis mais severas nos casos de estupro e, assim, evitar a falta de punição aos culpados.“ 

Veja que eu destaquei os sujeitos no plural para mostrar como os infinitivos não se flexionam. No item 4, o segundo infinitivo faz parte de uma locução verbal cujo verbo, para evitar a repetição, está implícito, assim como o sujeito (“eles”): “(querem) evitar”.

 2º caso) com sujeito representado por pronome oblíquo:

1)      “O professor deixou-os receber as provas depois da hora.”

2)      “Nós os vimos esperar os resultados em paz.”

3)      “Eles lhes mandaram encontrar os rivais.”

4)      “Todos os amigos deixaram-nas sair sem palavras amáveis.”

Não são locuções verbais. Há, em todos os casos, duas orações: na primeira delas, um dos verbos causativos (“mandar”, “deixar” e “fazer”) e sensitivos (“ver”, “ouvir” e “sentir”); na segunda, cujo sujeito é o pronome oblíquo em destaque, aparecem os infinitivos, que estão sublinhados e nunca podem estar flexionados.

 

3)      Dica 3: Há alguma hipótese de utilizar “em cerca de”?

Sem problemas, desde que o verbo exija a regência com a preposição “em” e, em seguida, apareça uma locução denotativa de valor avaliativo “cerca de” (equivalente a “perto de”, “mais ou menos” etc.):

Exemplos:

1)      “Tal acontecimento se verificou em cerca de vinte relatórios.”

2)      “Em cerca de doze fotografias, apareceu o branco da neve.”

3)      Estaremos aí em cerca de dez minutos.”

4)      A notícia apareceu em cerca de vinte sites diferentes.


Natal da língua portuguesa! Dicas para iniciantes! 14/12/2020

Natal da língua portuguesa! Dicas para iniciantes! 14/12/2020

1)      Dica 1: Não compreendi muito bem a diferença de “onde” x “aonde” x “de onde”. Pode me explicar melhor?

 Na verdade, trata-se de como escrever o advérbio ou pronome relativo “onde”, sendo que, nas duas outras formas, precedido das preposições “a” (“aonde”) ou “de” (“de onde” ou “donde”).

 Quem determina a forma a ser usada é o verbo seguinte. Veja só:

 a)      “Onde você mora?” – “morar” rege “em”; quem mora mora em algum lugar; se a preposição é “em”; então, usa-se “onde”;

b)      “Aonde você vai?”  – “ir” rege “a”; quem vai vai a algum lugar; se a preposição é “a”; então, usa-se “aonde”;

c)      “De onde você vem?”  – “vir” rege “de”; quem vem vem de algum lugar; se a preposição é “de”; então, usa-se “de onde” ou “donde.

 Nesse caso, são advérbios interrogativos de lugar.

 Agora, veja-os iniciando orações substantivas, quando ainda são advérbios de lugar, podendo ser ou não interrogativos.

 d)      “Vimos onde você estava vivendo.” – “viver” rege “em”; quem vive vive em algum lugar; se a preposição é “em”; então, usa-se “onde”;

e)       “Perguntei aonde você ia com tanta pressa.” – “ir” rege “a”; quem vai vai a algum lugar; se a preposição é “a”; então, usa-se “aonde”;

f)       “Nunca se soube de onde saíram tais ideias loucas.” – “sair” rege “de”; quem sai sai de algum lugar; se a preposição é “de”; então, usa-se “de onde” ou “donde.

 Finalmente, vejamos quando estão no início de orações adjetivas, caso em que têm antecedentes, passando, assim, a ser pronomes relativos.

 g)      “Descobrimos a cidade onde você estava.” – “estar” rege “em”; quem está está em algum lugar; se a preposição é “em”; então, usa-se “onde”;

h)      Você não valorizou o lugar aonde chegou tão depressa.”  – “chegar” rege “a”; quem chega chega a algum lugar; se a preposição é “a”; então, usa-se “aonde”;

i)        “Esta é a região de onde se originou nossa família.” – “originar” rege “de”; quem se origina se origina de algum lugar; se a preposição é “de”; então, usa-se “de onde” ou “donde.

 2)      Dica 2: Em relação aos verbos “referir” e “referir-se”, qual das duas possibilidades pode receber o acento grave?

 “Referir” é sinônimo de “narrar”, e é transitivo direto:

 a)      “Machado referiu aquele episódio com mais humor.”

 “Referir-se” significa “fazer referência”, “ter relação com”; é transitivo indireto e rege preposição “a”:

 b)      “Nós nos referimos a uma obra de Machado.”

 Somente o segundo, que é pronominal e tem a preposição “a”, pode ter o acento grave, indicador da crase:

 c)       “Eles se referiram às duas ocorrências.”

d)      Os críticos se referem àquelas obras do autor brasileiro.

3)      Dica 3: No seguinte exemplo: “Todos tinham (haviam) resolvido a questão”. Você mencionou, professor, que é o particípio de tempos compostos. Minha pergunta é: seria um tempo composto do indicativo ou subjuntivo, ou de todos? Não compreendi muito bem.

O Indicativo tem quatro tempos compostos: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e futuro do pretérito. E o subjuntivo, três: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito e futuro.

Todos os tempos compostos, seja no indicativo ou no subjuntivo, se constroem com “ter ou haver + particípio”. Nesse caso, o particípio não varia. Veja os exemplos:

- no Indicativo:

a)       “Nós temos ou havemos falado sobre isso.” – pretérito perfeito composto (verbo auxiliar no presente + particípio invariável)

b)      “Ela tinha ou havia saído às dez horas.” – pretérito mais-que-perfeito composto (verbo auxiliar no pretérito imperfeito + particípio invariável)

c)       “Elas terão ou haverão chegado às dez horas.” – futuro do presente (verbo auxiliar no futuro do presente + particípio invariável)

d)      “Todos teriam ou haveriam perdido as explicações.” – futuro do pretérito (verbo auxiliar no futuro do pretérito + particípio invariável) 

- no Subjuntivo:

e)      “Espero que tenham ou hajam recebido minha mensagem.” – pretérito perfeito (verbo auxiliar no presente + particípio invariável)

f)        “Se tivessem ou houvessem dividido os conhecimentos, a prova seria mais fácil.” – pretérito mais-que-perfeito (verbo auxiliar no pretérito imperfeito + particípio invariável)

g)       “Quando você tiver ou houver esperado o presente, terá uma surpresa.” – futuro (verbo auxiliar no futuro + particípio invariável)

- Diferentemente de outros particípios, que podem variar em gênero e número:

a)       “Encontrada a falha, corrigiu-se o problema em segundos.” (em oração reduzida)

b)      “As casas foram invadidas pelas águas barrentas.” (na voz passiva)


Natal da língua portuguesa! Dicas para iniciantes! 7/12/2020

1) Dica 1: Há uma explicação para o diminutivo padrão de juiz ser “juizezinhos”?

A regra geral da flexão de número ensina que se deve acrescentar simplesmente um “s” à palavra desejada:

- bolo – bolos; pedra – pedras;

Nesse caso, o plural dos diminutivos não tem qualquer mudança:

- bolo => bolos / bolinho => bolinhos; pedra => pedras; pedrinha => pedrinhas;  

Veja que, nessa situação de diminutivo plural, não há mudança da regra; como não houve alteração, depois da consoante, acrescenta-se “-inhos/as”.

Num segundo caso, quando se acrescenta o “s”, há alterações na forma primitiva:

= animal – animais; papel – papéis; coração – corações; pão – pães; cruz – cruzes; mulher – mulheres; país – países; juiz, - juízes.

Nesse segundo caso, em que há plurais com alterações, obedece-se a uma regra específica, que diz o seguinte:

- na formação do plural dos diminutivos, usa-se a palavra original e passa-se para o plural, só depois é que se coloca a marca do diminutivo – inho/a, precedido da consoante de ligação “z”, antes do “s” final –, ou seja, entre a semivogal ou vogal final e o “s”:

- animal – animais => animaizinhos; papel – papéis => papeizinhos;

- coração – corações => coraçõezinhos; pão – pães => pãezinhos;

- cruz – cruzes => cruzezinhas; mulher – mulheres => mulherezinhas;

- país – países => paisezinhos; juiz, - juízes => juizezinhos.

 2) Dica 2: “Todo o/ toda a” x “todo /toda”: não entendi direito quando usar um ou outro

 Veja a diferença! “Todo o/ toda a”  equivale a “inteiro/a”, enquantotodo /toda” significa “qualquer”, ou ainda; se plural, “todos os / todas as”.

a)      “Todo o país deseja o progresso.” = “O país inteiro deseja o progresso.” – Estamos falando de um país só, mas dele inteiro.

b)      “Todo país deseja o progresso.” = “Qualquer país deseja o progresso.” – Estamos falando de vários países; equivale a “todos os países”.

c)      “Toda a turma reclama do professor.” = “A turma inteira reclama do professor.” – Estamos falando de uma turma só, mas dela inteira.

d)      “Toda turma reclama do professor.” = “Qualquer turma reclama do professor.” – Estamos falando de várias turmas, equivale a “todas as turmas”.

 3) Dica 3: Professor, uma dúvida surgiu em relação ao “não” usado como prefixo. Com a reforma, perdeu-se o hífen em todas as possibilidades de uso?

 Sim. Não se usa mais o hífen nesse caso.

Antigamente, havia uma diferença não explicada claramente, que ensinava existir o hífen em certas situações, diferenciando substantivos de adjetivos.

Isso acabou! Agora, é mais simples: o “não”, usado como prefixo, não admite o hífen!

Assim, escreve-se:

a)       “Indígenas não aculturados precisam ser preservados.”

b)      “Os não especialistas também precisam ser ouvidos.”