Vida de revisor é difícil 42

Vida de revisor é difícil 42

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Olá, mestre! Tudo bem? Uma dúvida antiga. Por que MAL-EDUCADO/A tem hífen?

É hora de saber a resposta!

Sinto muito, mas, embora lhe vá explicar a formação da palavra e esclarecer essa dúvida, não poderei eliminar muitas outras.

"Mal" é, normalmente, um advérbio, mas pode ser usado como elemento de formação de palavras, ou seja, como um prefixo.

a)       “Ele se saiu mal no teste de sábado.”  – Trata-se de um advérbio de modo, pois modifica o verbo “sair-se”.

Às vezes, é impossível distinguir o advérbio do prefixo. Veja só:

b)      “Ele foi mal educado pelos avós.” – É, mais uma vez, o advérbio de modo, modificador do verbo “educar” na voz passiva.

c)       “Para mim, ele é mal-educado.” – Agora, é o prefixo que, agregado ao adjetivo, forma um novo adjetivo.

É no segundo caso que se tem a dúvida sobre o uso do hífen.

Uma regra geral que inclui a maioria dos prefixos, criada no Acordo Ortográfico de 2009/2010, ensina que prefixos só têm hífen antes de “h” ou quando terminam numa vogal igual àquela que inicia a palavra a que se liga. Nos demais casos, fica tudo junto (sem o hífen), porém com um desdobramento especial: se a palavra seguinte começar por “r” ou “s”, essas letras são dobradas para evitar mudança de som. Vejamos o prefixo “anti-“.

Exemplos:

d)      “O circuito é anti-horário” (com hífen: “anti” antes de “h”).

e)      “Tome um anti-inflamatório” (com hífen: “anti” antes de “i”).

f)        “O computador tem um antivírus poderoso” (sem hífen; tudo junto).

g)       “A senhora usava um creme antirrugas” (sem hífen; tudo junto, com “rr”).

h)      “O laboratório testava um novo antisséptico” (sem hífen; tudo junto, com “ss”).

Como o prefixo “mal” não termina em vogal, mas, sim, numa consoante “l”, houve alterações na regra geral: o prefixo “mal” tem hífen antes de “h”, de “l” e de vogais. E não há necessidade de se dobrar o “r” e o “s”.

Assim:

i)        A moça é mal-humorada – prefixo (hífen antes de “h” / adjetivo).

j)        “Os legumes estão muito mal-lavados” – prefixo (hífen antes de “l” / adjetivo).

k)       “O menino é mal-educado.” – prefixo (hífen antes de vogal / adjetivo)

l)        “O senhor teve um mal-estar.” – prefixo (hífen antes de vogal / substantivo)

m)    “Aqueles dois quadros são mal-acabados.” – prefixo (hífen antes de vogal / adjetivo)

Antes de outras consoantes, não existe o hífen. Escreve-se junto.

n)      “Aquele é um malfeito da época colonial.” – – prefixo (sem hífen antes de consoante / substantivo)

o)      “É apenas uma questão de malquerer a seus semelhantes.” – prefixo (sem hífen antes de consoante / verbo)

p)      “Falou-se de um projeto malsucedido.” – prefixo (sem hífen antes de consoante / adjetivo)

Tradução: é muito complicado! É melhor consultar um bom dicionário ou o VOLP/ABL (no endereço eletrônico <ablbusca>.


Vida de revisor é difícil 41

Vida de revisor é difícil 41

“Esclarecer ou esclarecerem?

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Professor, é esclarecer ou esclarecerem? “Na verdade, faltava esclarecer ou esclarecerem as dúvidas que incomodavam todos os interessados.” Mestre, fiquei na dúvida. O senhor poderia me explicar por que o segundo verbo pode ser flexionado?

É hora de saber a resposta!

“Na verdade” é uma circunstância antecipada, daí o uso da vírgula. O verbo “faltar” não forma locução verbal; assim, o seu sujeito é a oração seguinte, o que o obriga a ficar no singular: “faltava”.

Em relação ao infinitivo, pode haver um sujeito implícito “eu” ou “ele”, daí admitir o singular: “Faltava que eu esclarecesse as dúvidas...” ou “Faltava que ele esclarecesse as dúvidas...”  

No entanto, também se pode admitir um sujeito indeterminado, daí o uso da forma de terceira pessoa do plural, que é, segundo a gramática tradicional, uma forma de indeterminar o sujeito. Seria igual a “Faltava que esclarecessem as dúvidas...”

Ou seja, as duas podem existir, embora dependam da mensagem que o autor do texto pretende comunicar.


Vida de revisor é difícil 40

Vida de revisor é difícil 40

É “, etc.”, “etc...”, “e etc.” ou “etc.”?

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Mestre, vi, numa revista, a seguinte frase: “Agora, até por aplicativos, podem-se comprar maçã, banana, mamão, etc.” Minha dúvida é quanto ao uso de vírgula antes de “etc.”  Em uma enumeração – por exemplo: “maçã, banana, mamão, etc.” e “maçã, banana, mamão etc.” –, qual das duas é correta?

É hora de saber a resposta!

Vamos por partes: sempre tem de haver o ponto abreviativo após “etc.”, que é a abreviação devida de “et coetera”, ou seja, “e outras coisas”; em relação à vírgula, não há autor importante que a defenda, pois o “et”, forma latina que significa “e”, é puramente aditivo. As reticências seriam redundantes e totalmente absurdas.

Finalmente, há autores de real importância que defendem, baseados na tradição, o uso do “e” antes do “etc.” Eu, porém, não recomendo a sua utilização, porque acho óbvia demais a repetição “e etc.”

Penso que fica mais agradável ouvir e ler: “Agora, até por aplicativos, podem-se comprar maçã, banana, mamão etc.”

Ah!... sim: só para coisas! Não use “etc.” para pessoas!


Vida de revisor é difícil 39

Vida de revisor é difícil 39

Único e principal são incoerentes?

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Vida de revisor é difícil 39

Professor, leia esta frase e veja se é possível tal construção: “Tal fato fez-nos crer que o Executivo é o único responsável pela crise, mas a verdade é que o Legislativo também é o principal responsável.”

O Executivo e o Legislativo não podem ter a mesma parcela de culpa?

É hora de saber a resposta!

Poderiam, sim, ser igualmente culpados; então, seria mais fácil escrever que: “Tal fato fez-nos crer que o Executivo e o Legislativo são os responsáveis pela crise.”

Uma análise mais cuidadosa é bem curiosa! Penso que o jornalista queria informar que “tal fato parece fazer-nos crer que o Executivo é o único responsável pela crise, mas a verdade é que o Legislativo é que tem a principal culpa.”

Aí, seria uma informação que nós entenderíamos ao lermos tal redação diferente.

Poderia até ser essa a informação correta, mas não é o que se deve condenar na frase original: o absurdo é a incoerência que ocorre entre os adjetivos “único” e “principal”, inclusive aplicados a poderes diferentes.

Ao escrever que “o Executivo é o único responsável”, torna-se impossível admitir que se tenha outro culpado. Ora, se havia um outro detentor de culpa, não era correto usar o adjetivo “único”. Há total incoerência entre ele e o outro adjetivo usado, “principal”. Esse pressupõe a existência de, pelo menos, um outro.


A produção textual e o raciocínio linguístico 3

A produção textual e o raciocínio linguístico 3

“Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão de sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população…”

Mesmo com tempo para escrever, em certas ocasiões, a falta de planejamento e de habilidade no uso da pontuação pode revelar preconceitos e trazer prejuízos gravíssimos à leitura de um texto.

Sem contar que deveria haver um ponto ou, no mínimo, um ponto e vírgula depois da palavra “discreta”, o trecho acima leva a uma leitura racista, em dois níveis. A primeira, muito mais grave, seria ligar o trecho “em razão de sua raça” ao segmento anterior – que é o que todos, nas redes sociais, estão fazendo – , e a segunda, à oração do verbo “agir”, menos preconceituosa, mas também segregacionista.

Se a intenção do autor fosse amenizar a opinião racista e estabelecer clareza no que escreveu, poderia deixá-lo assim:

“Seguramente integrante do grupo criminoso, agia, em razão de sua raça, de forma extremamente discreta. Os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população...”